Resumo de noticias da madrugada
14/12/2024



Dedé: Os quatro anos que eu passei no Vasco foram maravilhosos



Deixa eu contar logo de cara uma coisa surpreendente pra vocês: eu não tenho muito apreço pelo futebol. Por favor, não me entendam mal. O que eu sinto por ele, pelo esporte que me deu tudo, não é menosprezo ou ingratidão, longe disso. É que desde criança nunca rolou comigo aquele negócio de dormir com a bola, de matar aula pra jogar, de assistir a todos os jogos na TV, gols da rodada, mesas-redondas, nunca fiquei de luto por ter sido reprovado em peneira.

A vida inteira eu pensei bastante a respeito disso, nessa pergunta que fica um pouco mais desconfortável depois que a gente para: por que eu fui um jogador de sucesso? A conclusão que cheguei é que a minha relação com o futebol, talvez espelhando meu pai, um trabalhador da Companhia Siderúrgica Nacional, é de operário.

Fui um operário do futebol muito dedicado. Responsável, comprometido, consciente de que não se faz nada sozinho, um operário que procurou dar o seu melhor em todos os lances, como se cada um deles fosse o pagamento de uma promessa, e que se realizava quando conseguia fazer o trabalho com capricho. Então, o meu caso com o futebol é mais de compromisso e zelo com o trabalho do que de apreço ou paixão. Seria do mesmo jeito se eu tivesse sido carteiro, ou médico, ou marceneiro…

Eu acho que sou assim em tudo. Se um amigo me pede, vamos supor, pra ajudar ele a carpir o terreno do sítio, eu me entrego completamente. No final fico destruído, mas em paz por ter feito direitinho, o melhor possível.

Por quê? Porque ele contava comigo. Me sinto mal se for diferente disso.

Quando eu era moleque tive um treinador de futsal lá em Volta Redonda, a minha cidade, que dizia: "O Dedé não sabe brincar". Eu corria tanto no bobinho do aquecimento que ele tinha medo que me faltasse gás depois, no jogo. Mas o que eu posso fazer? Se não dá pra realizar uma coisa direito eu prefiro nem começar.

Vocês devem estar se perguntando se o fato de eu ser assim tirou a minha alegria de jogar futebol… A resposta é:

Nem um dia sequer. Eu jogaria tudo de novo, com mais capricho.

Tive sorte de trabalhar num ramo em que dedicação e compromisso dão resultado. No futebol, o resultado fruto da dedicação e do compromisso vira confiança. Aí a confiança faz a gente se dedicar mais, ter mais compromisso e a coisa toda te empurra pra cima. Na infância, eu não era bom no futebol. Nem ligava muito, enquanto meus amigos eram fissurados. Mas pra não ficar fora da brincadeira eu ia jogar com eles numa quadra no nosso bairro, o Parque das Ilhas.

Como eu tinha altura, envergadura e gostava de fazer as coisas bem-feitas, virei goleiro. Aí, aos oito anos, incentivado por um amigo, entrei numa escolinha. A minha mãe, que era faxineira nos dias de semana, pagava a mensalidade fazendo e vendendo pastel aos sábados e domingos. Mesmo gostando mais ou menos de futebol, e gostando nada da posição, eu me destacava como goleiro de futsal e fui parar no Fluminense. A coisa ficou séria. Eu estava com 12 anos e havia uma grande probabilidade de eu seguir como goleiro em Xerém e dali pra mais. Achei melhor largar tudo enquanto podia.

Eu não queria ser goleiro. Nem tinha certeza se queria ser jogador.

Voltei pra minha cidade e fui tentar jogar de volante no Volta Redonda. Só ficava na reserva. Mas um dia, num jogo importante dos juvenis, o time perdeu todos os beques, dois suspensos, outros dois machucados, e sobrou pra mim. Entrei na zaga sem experiência, mas com aquele pensamento que deve ter nascido comigo: dar tudo pra fazer o melhor, fazer bonito. Nunca mais saí do time.

Meses depois, fui destaque num Volta Redonda x Flamengo e me promoveram pros juniores. Um pouco mais tarde, o melhor em campo num Volta Redonda x Botafogo. Passei pro time profissional e um mundo novo se revelou pra mim. A dedicação e o compromisso com aquele trabalho que eu fazia com tanta seriedade e capricho se converteram num salário de R$ 500 por mês,









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